Veto da Rússia impediu intervenção em praticamente qualquer país do planeta

Em 2021, a Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pretendia considerar a “crise” provocada pelas mudanças climáticas “uma ameaça à paz e segurança internacionais”.

Se aprovada, a Resolução poderia em algum momento ser usada como argumento para uma possível intervenção global na região da Amazônia, bastando que algum país-membro da ONU considerasse que as queimadas e o desmatamento na região estivessem causando desequilíbrios capazes de comprometer a paz mundial.

O fato tem sido apontado como uma das razões da posição de neutralidade do Brasil adotada pelo presidente Jair Bolsonaro em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, o veto da Rússia “afundou um esforço de anos para tornar o aquecimento global mais central para a tomada de decisões na ONU”. Liderada pela Irlanda e pelo Níger, a proposta pretendia “incorporar informações sobre as implicações de segurança das mudanças climáticas” nas estratégias do conselho para gerenciar conflitos e em operações e missões de manutenção da paz.

A medida também pedia ao secretário-geral da ONU que tornasse os riscos de segurança relacionados ao clima “um componente central” dos esforços de prevenção de conflitos e relatasse como lidar com esses riscos em pontos críticos específicos.

Segundo texto, tempestades mais fortes, aumento do nível do mar, inundações e secas mais frequentes e outros efeitos do aquecimento poderiam inflamar as tensões sociais e os conflitos, “representando um risco importante para a paz, segurança e estabilidade globais”. Dos 193 países membros da ONU, 113 apoiaram a Resolução, incluindo 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança.

A Rússia exerceu o seu poder de veto e barrou a proposta.

O embaixador russo Vassily Nebenzia reclamou que a resolução proposta transformaria “uma questão científica e econômica em uma questão politizada”, desviaria a atenção do conselho do que chamou de fontes “genuínas” de conflito em vários lugares e daria ao conselho um pretexto para intervir em praticamente qualquer país do planeta. “Esta abordagem seria uma bomba-relógio”, disse ele.

Índia e China questionaram a ideia de vincular o conflito ao clima e previram problemas para os compromissos de Glasgow se o conselho de segurança – um órgão que pode impor sanções e enviar tropas de paz – começasse a pesar mais. “O que o conselho de segurança precisa fazer não é um show político”, disse o embaixador chinês Zhang Jun.

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