A dimensão das enchentes no Rio Grande do Sul é tão grande que vai afetar o PIB, a inflação, a taxa de desemprego, as contas públicas. Não à toa, o Boletim Focus, que reúne as projeções de analistas de mercado, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central do Brasil, apontou o primeiro recuo em um ano das estimativas de crescimento da economia, uma redução de 2,09% para 2,05%, que já pode ser lida como reflexo da situação gaúcha. Então impacto terá, ele será disseminado e de longo prazo. O difícil é dimensionar, neste momento, qual será o tamanho do efeito sobre a economia, pois o prolongamento da situação faz com que se precise a todo mundo rever as contas.
Por exemplo, quando falamos de safra agrícola – o estado é um grande produtor – em um primeiro momento a leitura foi de que tanto a colheita da soja, quanto a do milho estavam praticamente concluídas, o que levou a uma conclusão de que o impacto seria menor do que se imaginava inicialmente. No entanto, as áreas agricultáveis permanecem alagadas. O que significa que a safra de inverno de trigo e, principalmente, de arroz podem vir a ser prejudicadas. E ainda há o risco de as enchentes deste ano terem efeito sobre a colheita do ano que vem, isto se até o terceiro trimestre não forem retomadas as condições para o plantio.
Fora as condições climáticas necessárias para se semear e colher, há impedimentos de outras ordens para o desenvolvimento do setor que teve uma perda de capital gigante, com avaria de equipamentos essenciais para a atividade.
Isso afeta o mercado interno, não se prevê desabastecimento, mas os preços podem vir a aumentar, elevando a inflação. Além disso, parte dessa safra é exportada – só a soja exporta um volume que representa US$ 22 bilhões – e essa capacidade de exportação será reduzida, seja para incapacidade de produção seja pela dificuldade na logística de escoamento dos produtos.
As indústrias também foram atingidas no estado. E uma indústria importante no Rio Grande do Sul é de máquinas agrícolas que fornece para o país inteiro. O Brasil inteiro será afetado por essa tragédia em maior ou menor grau.
Isso sem falar do impacto fiscal, pois apesar de ter ficado definido que os investimentos na reconstrução gaúcha não serão contabilizados para efeito da meta, eles se refletirão nas contas públicas, se transformarão em dívida pública.
Fonte: https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2024/05/tragedia-do-rio-grande-do-sul-tera-impacto-prolongado-e-disseminado-na-economia.ghtml
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