Michael Kofman, especialista sênior em assuntos militares russos do prestigiado grupo de pesquisa CNA (Center for Naval Analyses), explica a quais sinais deveríamos prestar atenção em relação a uma possível invasão russa da Ucrânia.
Entendendo os sinais
A Rússia é o maior país do mundo, com situações climáticas e de terreno bastante diversas, e por isso se leva algum tempo para movimentar tropas e pessoal de um lado para o outro do país.
E aqui temos o primeiro sinal – movimentação de grupamentos logísticos.
Até agora, segundo Kofman, a movimentação maior foi de equipamentos, que estão posicionados a até uns 200 km da fronteira com a Ucrânia, mas a quantidade de pessoal operacional é relativamente limitado.
Mais importante ainda, os grupamentos logísticos da região oeste da Rússia, que seriam as principais responsáveis pelo suprimento de tropas na região, ainda estão em suas bases.
É bem verdade que a quantidade de tropas na região já é bem maior do que a que invadiu a Crimeia em 2014, e que muitos dos batalhões presentes já estão com seus respectivos grupamentos logísticos, mas na composição atual estas tropas não teriam os meios para permanecer em operação por muitos dias, vindo daí a importância dos grupamentos especializados em logística.
Outro ponto destacado por Kofman é que nem os próprios russos sabem direito o que está na cabeça do presidente russo Vladimir Putin, portanto é muito difícil saber o que ele vai decidir a seguir. Mas, se ele disser que haverá guerra, então com certeza vai acontecer!
A melhor forma de saber que operações militares estão prestes a acontecer, então, seria observar o que os principais comandantes militares, o Ministro da Defesa Sergey Shoygu e o Comandante do Estado-maior Valery Gerasimov, declaram. Nenhum deles fala com frequência ao público, mas quando eles falarem – é bom prestar atenção.
Qual seria o escopo da ação russa?
Outra questão recorrente é sobre qual seria a pretensão russa no caso de um ataque – tomar todo o país, apenas parte dele…?
Na opinião de Kofman, esta é a pergunta mais difícil de se responder, justamente porque é muito difícil saber o que se passa na cabeça de Putin.
Analisando-se o passado militar recente da Rússia, incluindo a invasão da Crimeia, a tendência, segundo Kofman, é a de que a Rússia ocupe apenas parte do território ucraniano, mais especificamente ao redor da província de Donbass, da fronteira com a Rússia até o Vale do Rio Dnieper, a região de maior interesse russo no momento.
Aquela região, assim como a Crimeia, tem uma grande quantidade de pessoas de etnia russa, e movimentos separatistas na região estão em pleno vapor, tais como na Crimeia na época da invasão russa.
Portanto, é razoável supor que a Rússia vai fazer mais ou menos como fez com a Crimeia – vai ocupar apenas uma porção do país, evitando atacar a capital ou outras regiões que não sejam de interesse militar imediato em relação a Donbass.
A falta de ação ocidental quando da invasão da Crimeia – que pegou muita gente completamente desprevenida – encorajou a Rússia a agir de forma extremamente assertiva em relação a Donbass.
Portanto ão se pode negar que os sinais emitidos pela Rússia de fato são preocupantes.
Fonte: HNM