Por que a Rússia vendeu o Alasca para os EUA?

O presidente russo Vladimir Putin teve grande encontro com o presidente americano Donald Trump no Alasca nesta sexta-feira para discutir a guerra na Ucrânia. Eles discutiram sobre concessões de terras ucranianas como parte das negociações de paz, como sugeriu Trump, e o farão em terras que a Rússia vendeu aos Estados Unidos em 1867. Essa não será a única ironia histórica. A Rússia foi levada a vender o Alasca em parte por causa de uma guerra na Crimeia, península anexada pelo Império Russo em 1783, sob o comando de Catarina, a Grande.

A Crimeia tornou-se parte de uma Ucrânia independente em 1991, e a Rússia a tomou em 2014, em uma prévia de sua invasão em larga escala da Ucrânia em 2022. Ironicamente, “não há nada melhor do que isso em grande escala histórica”, disse Pierce Bateman, historiador da Universidade do Alasca em Anchorage, referindo-se ao local da cúpula entre Trump e Putin.

A compra do Alasca por US$ 7,2 milhões agora parece um ótimo negócio para os Estados Unidos. Embora tenha feito sentido para o Império Russo na época, alguns nacionalistas russos veem a venda como um erro histórico. Veja o que você precisa saber sobre as forças e pessoas que a moldaram e por que seu legado é importante.

Abaixo foto do Cheque de US$ 7,2 milhões do Tesouro dos EUA que selou compra do Alasca pelos americanos em 1867 — Foto: Administração Nacional de Arquivos e Registros

Rússia adquiriu Alasca durante era de expansão colonial

Exploradores russos chegaram ao atual Alasca no século XVIII, atravessando um estreito que separava a Ásia e a América do Norte. O estreito recebeu o nome de Vitus Bering, o marinheiro dinamarquês enviado ao exterior pelo Czar Pedro, o Grande, na década de 1720 para reivindicar novos territórios russos.

Havia uma sensação de “velho oeste” no território quando os primeiros exploradores russos correram para coletar peles de lontra marinha — uma mercadoria valiosa na China na época — nas Ilhas Aleutas e arredores.

Também houve brutalidade contra povos indígenas, incluindo sequestros de filhos de líderes locais e a destruição de barcos e equipamentos de caça, de acordo com William L. Iggiagruk Hensley, historiador e ex-senador estadual democrata no Alasca.

Apelo econômico do Alasca para a Rússia diminuiu com o tempo

Em 1799, o Império Russo fundou a Companhia Russo-Americana para agilizar o comércio de peles e formalizar os assentamentos russos no território que viria a ser conhecido como Alasca. A “América Russa” acabaria se estendendo até o sul, na Califórnia.

Mas a sobre-exploração estava tornando o comércio de peles muito menos lucrativo. Havia também tensões entre comerciantes de peles russos, britânicos e americanos, em parte porque os limites de seus territórios e áreas de caça não eram bem definidos. E os assentamentos e ativos escassamente povoados da Rússia eram mal defendidos.

A geopolítica foi um fator na venda

Os desafios de manter o Alasca eram agravados por acontecimentos em outros continentes. Um deles era o comércio: a Rússia queria cada vez mais se concentrar na expansão imperial em seu Extremo Oriente.

Outra foi a guerra. Quando a Rússia começou a lutar contra a Grã-Bretanha, a França e o Império Otomano na Crimeia, em 1853, as autoridades russas temiam que as forças britânicas tentassem invadir o Extremo Oriente russo pela América do Norte, de acordo com um livro de 2016 sobre a compra do Alasca, escrito pelo historiador Lee Farrow. Mesmo depois que essa ameaça diminuiu, eles continuaram preocupados com a presença britânica no Pacífico

Eles também se perguntavam se a “América Russa” sobreviveria ao expansionismo americano. Na década de 1850, os Estados Unidos haviam conquistado a Califórnia, anexado o Texas e travado uma guerra com o México. Falava-se em “Destino Manifesto”, a ideia de que os Estados Unidos estavam destinados a se expandir pela América do Norte.

Autoridades russas, incluindo o comandante da frota do Pacífico, pediram ao império em dificuldades que descarregasse o Alasca enquanto pudesse.

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