Oportunidades entre Brasil e Rússia vão muito além do campo, diz presidente da Câmara Brasil-Rússia

O presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva de autoridades partiram para uma viagem a Moscou nesta segunda (14) para encontro com Vladimir Putin e reuniões bilaterais que, de acordo com o Itamaraty, já estavam sendo planejadas desde meados do ano passado.

A Rússia é um mercado importante, tem 140 milhões de habitantes. O Brasil tem interesse em aumentar as exportações para lá, principalmente de alimentos, e há a possibilidade de que, dentro dos BRICS, tenha algum tipo de cooperação .

Com um peso tão forte do agronegócio nas relações comerciais entre os dois países, é natural que o tema seja parte importante da pauta econômica da visita.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, era um dos nomes previstos na comitiva que acompanha Bolsonaro – sua presença, porém, acabou cancelada após a confirmação de diagnóstico de Covid-19 na semana passada.

Para o presidente da Câmara Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, porém, as oportunidades a serem exploradas entre os dois países vão muito além do campo, inclusive na atração de investimentos de empresas russas tanto estatais quanto privadas para o Brasil.

“A corrente comercial pode facilmente voltar para os US$ 8 bilhões ou US$ 9 bilhões, e nós projetamos um potencial de investimentos entre os dois países de US$ 40 bilhões nos próximos cinco anos”, disse Ramos, que também é vice-presidente para o Brasil da BRICS Alliansce, organização internacional de integração entre os cinco países integrantes do bloco.

“A Rússia tem muita expertise em áreas como petróleo, energia, infraestrutura, portos, ferrovias. O marco das ferrovias, por exemplo, aprovado no ano passado, vai demandar investimentos na ordem de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões, e a Rússia tem condições muito favoráveis de ser uma parceira”, disse Ramos, mencionando a RZD, a estatal de trilhos russas, e a larga cadeia de suprimentos ferroviários que a rodeia.

Portanto, é muito importante uma aproximação entre estes dois dos cinco membros dos BRICS, e há muitas oportunidades comerciais, hoje subutilizadas, que podem ser ampliadas entre o Brasil e a Rússia.

0,6% das exportações

Há duas décadas, a Rússia já foi a maior compradora de carnes, especialmente suína, do Brasil. O posto, porém, foi minguando conforme os russos trabalharam por sua autossuficiência e, no Brasil, os produtores começaram a se ocupar de outros destinos bem maiores em ascensão, caso da China.

Em 2021, o Brasil vendeu um total de US$ 1,7 bilhão em produtos para a Rússia, o equivalente a 0,6% das exportações totais, a menor participação em pelo menos duas décadas. Isso deixou o país com a nona maior população do mundo em 36º entre os destinos para onde o Brasil mais exporta.

O valor mal se compara aos US$ 88 bilhões embarcados para a China e os US$ 31 bilhões comprados pelos Estados Unidos no ano passado. Até nações menores, mais pobres e também distantes, como Malásia (US$ 4,7 bilhões), Vietnã (US$ 2,6 bilhões) ou Irã (US$ 1,9 bilhão), compram hoje mais do Brasil do que a Rússia.

Na pauta dos itens mais vendidos para os russos estão alimentos como soja, frango, carnes, café, açúcar e até amendoim, o que faz do país um parceiro especialmente querido do agronegócio brasileiro.

No sentido oposto, os fertilizantes dominam a lista de produtos exportados pela Rússia ao Brasil – cerca de 60% (US$ 3,5 bilhões) dos US$ 5,6 bilhões que o Brasil importou dos russos em 2021 foi em adubos e fertilizantes, de acordo com os dados oficiais da balança comercial brasileira.

O valor importado mais do que dobrou no ano passado e consolidou de vez uma relação bilateral que, depois de anos favoráveis, hoje é deficitária para o Brasil.

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