Conferência de Munique é o nome pelo qual ficou conhecido um encontro que aconteceu em setembro de 1938 e teve a participação dos líderes das seguintes nações: Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália. Nesse encontro foram debatidas questões relativas à crise que envolvia o interesse da Alemanha, governada por Adolf Hitler, em uma região do território da Checoslováquia: os Sudetos.
Durante esse encontro, o líder britânico e o francês colocaram em prática algo que ficou conhecido como “política de apaziguamento”, que correspondeu totalmente aos interesses de Hitler (na questão territorial). Essa política foi aplicada para evitar que uma nova guerra fosse deflagrada no continente europeu.
Um ano antes do início do conflito, as potências cederam territórios em uma fracassada tentativa de garantir a paz
Após Adolf Hitler (1889-1945) e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) conquistarem o poder absoluto na Alemanha, iniciaram os planos de retomada dos territórios germânicos perdidos após o Tratado de Versalhes (1919), assinado após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Mas a intenção não era só retomar os territórios perdidos, mas a criação de um ”Großgermanisches Reich” (Grande Reich Germânico). O anseio predador por novos territórios na visão geopolítica Nacional-Socialista Alemã tinha raízes no antigo conceito do antropogeográfo Friedrich Ratzel. Almejavam um ”Lebensraum” (Espaço Vital) para o povo alemão, que seria obtido através da”Drang nach Osten” (Necessidade de Ir para o Leste).
Em março de 1936, Hitler retoma a Renânia, através de uma pequena força expedicionária. Em março de 1938 ocorre o ”Anschluß” (Anexação) da Áustria pela Alemanha. Em abril de 1938, Hitler agora mirava os Sudetos de população alemã no oeste da Tchecoslováquia.
Ao ver esse avanço alemão desenfreado no continente europeu, elevando a temperatura em tensões com governo tchecoslovaco, as potências ocidentais, encabeçadas pelo primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, concordam em ceder os territórios aos alemães.
Nem a França, nem o Reino Unido se sentiam preparados para defender militarmente a Tchecoslováquia, entretanto, estavam dispostos a evitar um confronto militar com a Alemanha a (quase) qualquer custo.
Em setembro de 1938 ocorre o ”Acordo de Munique” (sem participação da Tchecoslováquia), no qual Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália fecham um ”acordo de paz preventivo’’ para cessar as hostilidades belicistas do Regime Nazista no continente. Hitler prometia que os Sudetos tchecos seriam sua última reivindicação territorial na Europa.
O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, na volta de sua reunião com Adolf Hitler, foi louvado por uma multidão como um magnânimo do estadismo, exibindo orgulhosamente o pedaço de papel que prometia garantir a harmonia e a estabilidade na Europa. Nessa ocasião afirmou ter obtido ”paz com honra”. “Eu acredito que é a paz para o nosso tempo”. finalizou.
No cenário político britânico, o conservador Winston Churchil alertou para a fragilidade desse acordo perante um inimigo tão astuto e sem intenções reais de esmorecer. Declarando: ”você teve que escolher entre a guerra e a desonra. Você escolheu a desonra e terá guerra. ”
Poucos meses depois, em março de 1939, a Alemanha ocupava o restante do território da Tchecoslováquia. Em 1º de Setembro de 1939, Hitler invadiria a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente também marcharia rumo à Dinamarca, Noruega, Luxemburgo, Holanda, Bélgica e a França.
O Acordo de Munique tornou-se sinônimo de fraqueza na tentativa de apaziguar os ânimos, principalmente ao aceitar acordos com um inimigo astuto e ardiloso.
A realização da Conferência de Munique foi o resultado de uma crise causada pela política expansionista que a Alemanha Nazista colocou em prática a partir de 1938. Esse expansionismo resultava de um dos pilares defendidos pelos nazistas: a formação do “espaço vital” (lebensraum, em alemão).
A ideia do “espaço vital” surgiu na Alemanha ainda no século XIX e era baseada em uma concepção existente naquela sociedade de que os alemães (germânicos) eram um “povo superior”. Por esse motivo, os alemães tinham o “direito” de formar um império nos territórios que historicamente haviam sido habitados por germânicos. Esse império seria constituído, principalmente, à custa da sobrevivência dos eslavos, grupo étnico que originalmente habitava a Europa Central e Europa Oriental.
A construção desse “espaço vital”, como bem sabia Adolf Hitler, só poderia ser realizada mediante intimidação e uso da força. No começo da década de 1930, todavia, a Alemanha estava consideravelmente distante desse objetivo, uma vez que a economia alemã estava em frangalhos por conta da derrota na Primeira Guerra Mundial e da Grande Depressão e porque o país não possuía força militar suficiente para isso.
Visando à construção do “espaço vital”, Hitler promoveu a reorganização do exército alemão, desafiando as determinações do Tratado de Versalhes, o qual pôs fim à Primeira Guerra Mundial e que fez duras imposições à Alemanha, responsabilizando-a inteiramente pelo conflito. A necessidade de uma tropa militar bem preparada servia, obviamente, para amedrontar as nações vizinhas e, se fosse necessário, obter as conquistas na base da força. A reorganização do exército alemão iniciou-se em 1934/1935 e foi realizada gradativamente.
A primeira movimentação feita pela Alemanha no sentido de construir o “espaço vital” foi realizada contra a Áustria. No caso austríaco, a Alemanha não teve muitas dificuldades em anexar o país, uma vez que a Áustria era etnicamente formada por população de origem germânica. Depois da Primeira Guerra, já haviam sido realizadas tentativas de anexação do país, mas não tiveram sucesso.
Na década de 1930, à medida que a Alemanha foi prosperando economicamente sob o domínio dos nazistas, a pauta foi sendo retomada. O governo austríaco passou a sofrer pressão de Adolf Hitler e do Partido Nazista da Áustria. Os alemães invadiram o território austríaco em 1938 e, no mesmo ano, organizaram um referendo que ratificou a anexação do país ao território alemão. Isso ficou conhecido como Anschluss.
Até esse momento, ingleses e franceses assistiam a tudo passivamente e não questionavam, mesmo com as determinações do Tratado de Versalhes sendo desafiadas pelos alemães. Essa postura refletia o temor existente de que suas ações contra os alemães levassem ao início de uma nova guerra no continente.
Crise dos Sudetos
Depois de ter anexado a Áustria ao território da Alemanha, Hitler voltou-se para a Checoslováquia e desapontou aqueles que acreditavam que, depois da anexação da Áustria, as ambições alemãs sobre outros territórios seriam contidas. O interesse dos nazistas sobre a Checoslováquia colocava fogo na disputa interna que existia nesse país entre checos e alemães.
A população da Checoslováquia era de maioria checa, mas havia uma minoria alemã, que se concentrava, principalmente, em uma região chamada de Sudetos. A relação entre a população checa e alemã começou a se tornar conturbada na década de 1930, em decorrência da Crise de 1929, que afetou muito a situação financeira dos sudetos alemães (como eram chamados), e por conta do fortalecimento do Partido Nazista na Alemanha.
Durante a década de 1930, a Alemanha começou a financiar grupos extremistas de alemães na Checoslováquia e começou a veicular propagandas denunciando supostos crimes cometidos por checos contra os alemães. Essas ações da Alemanha mobilizaram a população alemã que vivia nos Sudetos e fez com que ideias de secessão (separatismo) ganhassem força na Checoslováquia.
A ação da Alemanha era veiculada na Diplomacia como forma de garantir a proteção da população alemã nos Sudetos, mas o real interesse de Adolf Hitler era econômico. A Checoslováquia tinha um parque industrial bastante desenvolvido, sobretudo na produção de itens bélicos, e localizava-se em grande parte nos Sudetos. Além disso, o país tinha mão de obra especializada e ricas reservas de carvão e ferro.
As investidas dos alemães contra a Checoslováquia chamaram a atenção de britânicos e franceses, principalmente porque os checos tinham um acordo com os franceses de cooperação mútua em caso de guerra. A decisão de intervir na situação foi tomada por Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, e aconteceu por causa de um discurso proferido por Hitler em 12 de setembro de 1939.
Nesse discurso, Hitler ameaçou iniciar uma guerra se a questão dos Sudetos não fosse solucionada com a separação dos Sudetos da Checoslováquia. A partir disso, Chamberlain solicitou uma reunião com Hitler.
A Conferência de Munique
Antes da Conferência de Munique, foram organizadas duas reuniões entre Hitler e Chamberlain, mas não foi possível um acordo porque os pedidos de Hitler eram elevados demais. Richard J. Evans afirma que ingleses e checos preparavam-se para a guerra depois do fracasso das negociações.
A guerra só foi evitada porque Hermann Göring, um oficial alemão, realizou um esforço e organizou uma reunião, que ficou conhecida como Conferência de Munique, sem o consentimento de Hitler. A ação de Göring ocorreu porque ele e muitos outros oficiais alemães temiam que uma guerra acontecesse naquele momento, pois afirmavam que a Alemanha não possuía condições para suportar um conflito.
Göring enviou convites para Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico; Édouard Daladier, primeiro-ministro francês; Benito Mussolini, governante da Itália; e Adolf Hitler, governante da Alemanha, que foi convencido a participar por Göring. Nenhum representante da Checoslováquia foi convidado para a reunião.
A conferência aconteceu no dia 29 de setembro de 1939, em Munique (cidade alemã), e estendeu-se durante treze horas. Ao fim desse período, Hitler aceitou pôr fim às ameaças de guerra que ele havia feito anteriormente, os Sudetos passaram para a posse da Alemanha, e Hitler assinou um termo elaborado por Chamberlain em que se comprometia a garantir a paz no continente europeu.
A política imposta pelos britânicos de conceder termos que agradassem aos alemães como forma de evitar a guerra ficou conhecida como “política do apaziguamento”. Essa política foi realizada à custa da soberania do território checoslovaco.
Essa política, no entanto, analisada de forma retrospectiva, foi um fracasso porque Hitler deu sequência a sua política expansionista e ordenou, em setembro de 1939, a invasão da Polônia, o que deu início à Segunda Guerra Mundial.
Você precisa fazer login para comentar.