Não falei a palavra GOLPE, diz Cid em gravação obtida pela VEJA

Em agosto de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid decidiu fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal para falar tudo que viu e ouviu no período em que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro no Planalto. Os relatos de Cid embasaram prisões e operações de busca e apreensão da Polícia Federal. Em setembro do ano passado, VEJA mostrou um outro lado das falas de MAURO CID

Em conversas com pessoas próximas, Cid dizia que suas declarações na PF eram distorcidas para completar lacunas da investigação contra aliados. “Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles”, diz Cid numa gravação.

Nesta semana, o Radar teve acesso a um novo áudio de Cid, registrado no primeiro semestre de 2024, em que ele amplia as críticas sobre a forma como suas confissões eram registradas pela Polícia Federal e vazadas para a imprensa. Novamente, ele surge irritado ao constatar, segundo ele, que palavras foram atribuídas por investigadores a ele sem que tivessem sido ditas.

“Fala! Vou te dizer… Esse troço tá entalado, cara. Tá entalado. Você viu que o cara botou a palavra golpe, cara? Eu não falei uma vez a palavra golpe, eu não falei uma vez a palavra golpe! Então, quer dizer… Foi furo, foi erro, sei lá, acho até a condição psicológica que eu tava na hora ali (do depoimento). P… Eu não falei golpe uma vez. Não falei golpe uma vez”, diz Cid.

Clique na imagem e ouça o áudio:

De acordo com a revista, não é possível apontar em qual depoimento de Cid teria ocorrido essa suposta inclusão da palavra “golpe” de modo indevido, mas sabe-se que o termo figura nos relatos de Cid, registrados pela PF, desde o início da colaboração. No fim de semana passado, a íntegra do primeiro interrogatório de Cid, narrando a participação de diferentes aliados de Bolsonaro nas discussões sobre um suposto plano de golpe, foi revelada pelo colunista Elio Gaspari.

Cid confirma, no conteúdo vazado ao jornalista, que Bolsonaro trabalhava com duas hipóteses para manter-se no poder — e lá está a palavra golpe: “A primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado”, registra a transcrição da PF

A delação de Cid, com depoimentos e vídeos dos interrogatórios, segue, até hoje, em sigilo no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Quando os arquivos forem tornados públicos, será possível saber que lado de Cid falava a verdade: o delator que colaborou para elucidar crimes e colocar ex-aliados radicais na prisão ou o militar aparentemente arrependido por entrega-lós à Justiça. Vale lembrar que, durante as investigações, várias provas foram obtidas, incluindo-se aí importantes informações recuperadas em arquivos apagados de aparelhos do próprio Cid, comprovando detalhes da suposta trama detalhada por ele.

Desde que tornou-se delator, Cid envolveu-se em confusões e quase perdeu seu acordo de delação. Ele foi preso novamente por Moraes por violar as medidas estabelecidas no acordo, quando suas conversas sobre a delação foram reveladas por VEJA. Em depoimento no STF, Cid disse que suas declarações, nessas conversas com pessoas próximas, eram um “desabafo” e negou que suas declarações, nessas conversas com pessoas próximas, eram um “desabafo” e negou que a PF tivesse adotado qualquer tipo de conduta irregular nas investigações.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/radar/nao-falei-a-palavra-golpe-diz-cid-em-nova-gravacao-obtida-por-veja/

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