Maria Corina Machado decidiu falar pela primeira vez a um veículo de fora da Venezuela desde as eleições do último dia 28.
A escolha é estratégica: decidiu falar com o Brasil e pressionando Lula exigir a exibição do resultado das eleições na Venezuela
“Muito obrigada pela oportunidade de falar com o povo do Brasil, que eu sei que acompanha de perto a luta dos venezuelanos por um país com liberdade, justiça e dignidade. O que estamos vivendo nessas horas cruciais vai determinar o futuro não só de milhões de venezuelanos, mas também da estabilidade política da região“.
“Como venezuelana, fico muito agradecida pela resposta de alguns governos, de alguma maneira próximos a Maduro, como Brasil, Colômbia e México, e que assumiram posições muito firmes para que a verdade eleitoral seja conhecida. Agradeço a posição nítida do governo do Brasil e do presidente Lula, ao exigir que se divulguem os boletins, um a um“, disse Corina.
O QUE ACONTECEU NAS ELEIÇÕES DA VENEZUELA
Na noite da eleição, muito tempo após o horário previsto, o chefe do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo governo, anunciou que Nicolás Maduro havia vencido a eleição com 51,2% dos votos, enquanto o candidato de oposição, Edmundo Gonzaléz, obteve 44,2%. O chefe do CNE, Elvis Amoroso, não divulgou nenhum boletim de urna, apenas o suposto resultado da votação daquele dia.
O cientista político Dalson Figueiredo Filho (UFPE) achou estranho porque o resultado oficial apresentava números redondos até a quinta casa decimal: “A chance de esse número ser real é de uma em 100 milhões”.
Prevendo possíveis problemas na apuração, um grupo de especialistas ao redor do mundo já estava se organizando. O plano era obter os dados no site do CNE, para fazer uma soma rápida e antecipar o resultado. No entanto, misteriosamente, o site saiu do ar.
Para a líder da oposição venezuelana, isso é parte de um plano B do governo de Maduro para garantir sua reeleição.
“Nos centros eleitorais, tivemos uma estrutura cidadã nunca vista, com mais de um milhão de voluntários em todo país para que fôssemos recebendo um a um os boletins oficiais das urnas. Com isso, em 24 horas, pudemos anunciar que o candidato Edmundo González foi eleito com uma margem enorme. Essas informações estão disponíveis pro mundo inteiro“, diz Corina.
Além disso, o Centro Carter, uma organização criada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter para monitorar eleições ao redor do mundo, também estava presente na Venezuela para supervisionar o processo.
Durante a votação, com observadores em quatro cidades, o Centro Carter não detectou nada de muito sério. No entanto, quando o anúncio dos resultados começou a atrasar e não correspondia às pesquisas de boca de urna, um sinal de alerta foi acionado.
“A gente entendeu que qualquer coisa que a gente tivesse para dizer sobre o pleito seria melhor dizer fora do país“, conta Ian Batista, brasileiro que integrou a comissão do grupo. Para o Centro Carter, a eleição “não pode ser considerada democrática” porque houve “total falta de transparência no anúncio dos resultados”.
A equipe de contagem paralela também chegou a um resultado: 66% para Edmundo González e 31% para Nicolás Maduro – resultado muito diferente do anunciado pelo CNE, mas parecido com o divulgado pela oposição, de 67% a 30%.
O Conselho Nacional Eleitoral atualizou o resultado na sexta-feira. Com supostos 97% das urnas apuradas, ficou: 51,95% para Maduro e 43,18% para González.
ASSISTA: