Ives Gandra falou sobre o Brasil pós eleição, Artigo 142 e protestos

Ives Gandra da Silva Martins apoiou o presidente Jair Bolsonaro em sua campanha eleitoral e, em 2021, o candidato derrotado publicou uma entrevista na qual o jurista falava sobre o Artigo 142 da Constituição. A mensagem passada era que o artigo daria às Forças Armadas um poder de moderação quando houver um conflito entre os Poderes.

Segundo o texto, há uma interpretação sobre uma das três funções atribuídas constitucionalmente às Forças Armadas, o papel de defesa da lei e da ordem. A interpretação de Ives Gandra, porém, não é partilhada por outros juristas.

Em texto escrito para a coluna em 09/11/22, ele volta a falar sobre as condições nas quais tal artigo poderia ser acionado e insiste que o cenário apenas se justificaria “se houvesse fraude sistêmica na votação e se a Justiça Eleitoral não tomasse medidas para saná-la”. “Jamais poderia ser utilizado para a desconstituição dos poderes”, escreveu.

Ele ainda completa: “até o presente não há comprovação de fraude do processo eleitoral, razão pela qual, o presidente Lula foi eleito presidente, embora por reduzida margem de votos”.

BRASIL PÓS ELEIÇÃO

Por Ives Gandra da Silva Martins

As eleições brasileiras foram polarizadas entre dois líderes carismáticos. Lula e Bolsonaro, no pleito mais aguerrido da história política brasileira, até os últimos votos apurados disputaram a presidência. De um universo de 150 milhões de eleitores brasileiros, Lula recebeu o apoio de 40%, Bolsonaro de 39% e 21% não desejaram nenhum dos dois. 60 milhões votaram, pois, em Lula, 58 milhões em Bolsonaro e 90 milhões, por abstenção, votos nulos e brancos, não votaram no presidente Lula.

Os movimentos de descontentamento dos eleitores de Bolsonaro explodiram, tão logo proclamado o resultado, e continuam até o presente, pois entendem que a Justiça Eleitoral demonstrou preferência pelo candidato Lula, ao proibir as redes sociais e de comunicação social tradicionais, mas conservadoras, de manifestarem-se sobre as eleições nas últimas 2 semanas anteriores ao pleito.

Creio que o tempo tenderá a reduzir tal pressão por anulação das eleições.

O artigo 142 da Constituição Federal, que permite às Forças Armadas garantir a lei e a ordem, a pedido de qualquer dos poderes, só poderia ser utilizado, se houvesse fraude sistêmica na votação e se a Justiça Eleitoral não tomasse medidas para saná-la. Jamais poderia ser utilizado para a desconstituição dos poderes.

Até o presente não há comprovação de fraude do processo eleitoral, razão pela qual, o presidente Lula foi eleito presidente, embora por reduzida margem de votos.

Terá que compor-se com duas bancadas fortes num Congresso mais conservador, que é a rural e a evangélica, assim como com os setores empresariais, de finanças, industrial, agropecuário, comércio e serviços, de que depende o desenvolvimento do país. Não detém a condução da política monetária, em face da autonomia do Banco Central com presidente eleito, no atual governo, com mandato até 2024.

O país que herda é muito mais complexo do que quando eleito, 20 anos mais jovem em 2002, com uma expressiva votação e com a economia mundial em “boom” estancado pelo episódio do “Lehman Brothers”.

Talvez, por esta razão, colocou a comandar a equipe de transição seu vice-presidente, ex-governador de São Paulo — que responde por 40% do PIB brasileiro— Geraldo Alckmin, o qual foi um bom governador por três mandatos e que é um político moderado.

Se Bolsonaro liderar uma oposição responsável, Alckmin colaborará para que o Governo Lula seja consistente e sem radicalizações, com vigilância para quê os escândalos de corrupção dos governos petistas anteriores (mensalão e petrolão) não se repitam. Poderá assim, atravessar seu primeiro ano, deixando de lado as promessas descompassadoras do orçamento, pois o mundo todo enfrentará problemas de queda do crescimento em 2023, com impactos também no país.

Se conseguirmos que o Congresso mais conservador, o Executivo mais de esquerda e o Judiciário ativista, dialoguem para que voltemos a ter a harmonia e independência dos poderes (art. 2 da Lei Suprema), o Brasil superará as turbulências momentâneas. Espero que as forças praticamente iguais de situação e oposição encontrem um denominador comum para o bem da Nação.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/11/09/ives-gandra-fala-sobre-o-brasil-pos-eleicao-artigo-142-e-protestos.htm

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