Ação russa reflete fim do período de liderança exclusiva dos EUA no cenário global, conforme avaliação de especialistas em relações internacionais
O avanço dos tanques russos sobre a Ucrânia ajuda a ilustrar um outro tipo de marcha em curso na atualidade: a transição do mundo formado logo após o fim da Guerra Fria, sob a liderança solitária dos Estados Unidos, para um novo cenário global com múltiplos polos de poder.
Analisado pelo prisma das relações internacionais, o conflito deflagrado por Vladimir Putin reflete, muito além dos interesses diretamente envolvidos no combate, um reordenamento de forças marcado pela decadência do Ocidente, com o fim da hegemonia americana, em contraste com a ascensão da Ásia como potência militar e econômica sob liderança chinesa.
Putin só se sentiu encorajado a puxar o gatilho ao olhar pelas janelas do Kremlin e contemplar um mundo diferente daquele de duas décadas atrás. A principal mudança é o fim da antiga ordem criada logo após a vitória americana na Guerra Fria e a extinção da União Soviética.
Essa resistência inclui barrar a aproximação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), espécie de braço armado dos ocidentais, de suas fronteiras. Poucas semanas antes do início da guerra, Putin foi recebido pelo líder chinês, Xi Jinping, que classificou a parceria entre os dois como “inabalável” – dentro desse espírito, a China tem se recusado a condenar a carga russa rumo a Kiev. Escorado pela parceria econômica e estratégica com os chineses, Putin aproveitou o que muitos orientais percebem como “decadência” do Ocidente para agir na Ucrânia e tentar afastar a Otan da vizinhança.
Essa fragilidade inclui fiascos militares de forças ocidentais em regiões como Iraque e mais, recentemente, Afeganistão, que predispõem a opinião pública a negar apoio a novas incursões bélicas.
“Estamos em transição de um momento de um único polo global, representado pelos Estados Unidos, tendo a União Europeia como sócio menor, quando a Rússia estava em desarranjo e a China ainda não era a potência de hoje, para uma etapa de intensificação das relações entre Rússia e China que cria um novo polo de resistência ao Ocidente e a sua agenda — analisa o pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Paz Neves.
Fonte: GZH
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