Finlândia se prepara para tomar histórica decisão de pedir adesão à Otan
A Finlândia entra em uma na fase decisiva sobre sua candidatura ou não à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Essa possibilidade, que era impensável até o começo deste ano, voltou a ser cogitada depois do início do conflito na Ucrânia.
O governo finlandês deve publicar na próxima quinta-feira (14) novas diretrizes de segurança do país, reconsiderando a movimentação russa iniciada em 24 de fevereiro.
A decisão definitiva é esperada para junho, pouco antes de uma eventual aprovação pela Aliança Atlântica, em seu congresso no fim do mesmo mês, em Madri.
“Teremos discussões muito cuidadosas, mas não levaremos mais tempo do que o necessário”, disse a primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, na sexta-feira (8).
“Acho que terminaremos nossa discussão antes do final de junho”, acrescentou a líder social-democrata.
Apoio do Povo e do Parlamento
As pesquisas apontam que o apoio da população finlandesa à medida dobrou, passando para 60%, um índice inédito. A parcela dos que rejeitam a ideia caiu para cerca de 20%.
Também no Parlamento, uma clara maioria se mostra a favor da entrada na Otan. Como muitos de seus colegas, o deputado do partido de centro Joonas Kontta considerava que a aliança era “algo que não precisávamos no momento”. Mas a invasão russa “mudou definitivamente a Europa” e “ser membro da Otan nos daria mais valor em termos de segurança”, declarou neste domingo (10) à AFP
Primeira-Ministra
Sanna Mirella Marin nascida em Helsinque em 16 de novembro de 1985 é uma política finlandesa que é primeira-ministra da Finlândia desde 10 de dezembro de 2019. Membro do Partido Social-Democrata, ela é integrante do Parlamento da Finlândia desde 2015 e atuou como Ministra dos Transportes e Comunicações entre 6 de junho a 10 de dezembro de 2019. Após a renúncia do também democrata, Antti Rinne, Marin foi eleita primeira-ministra em 8 de dezembro de 2019.
Aos 36 anos, ela é a mais jovem líder feminina de Estado e a mais jovem primeira-ministra da Finlândia.
“Consequências sérias”
Moscou ameaça regularmente Helsinque e Estocolmo com “sérias consequências políticas e militares” se aderirem à Aliança Atlântica, um aviso repetido nas últimas semanas.
O presidente finlandês, Sauli Niinistö, reconheceu no final de março que uma candidatura à Otan poderia provocar respostas “impetuosas” da Rússia – sites do governo foram alvo de ataques cibernéticos na sexta-feira.
Militarização
No papel, a Finlândia (5,5 milhões de habitantes) tem um número recorde de reservistas, refletindo a vigilância contínua em relação ao seu vizinho russo.
O país está pronto para mobilizar entre 280 mil e 300 mil homens e mulheres em poucos dias.
Após encomendar 64 caças americanos F-35 no final de 2021, a Finlândia acaba de registrar um salto de 40% em seu orçamento militar até 2026, o que a coloca bem acima dos 2% do PIB recomendados pela Otan.
A Finlândia foi invadida pela União Soviética em 1939, em uma “Guerra de Inverno” de três meses, em que sua feroz resistência hoje traça paralelos com a guerra ucraniana.
No final de uma chamada guerra de “continuação” (1941-1944) contra os soviéticos, o país nórdico foi então submetido a uma neutralidade forçada durante toda a Guerra Fria. Foi apenas na década de 1990 que a Finlândia aderiu à União Europeia e se tornou uma parceira da Otan.
Colocando fogo no “parque” o secretário-geral da Otan diz que a Finlândia será recebida ‘calorosamente’ na aliança militar
A expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na direção das fronteiras da Rússia é analisada como um dos motivos para a guerra que se arrasta há mais de um mês.
No que depender do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a expansão da aliança militar em direção ao território russo é um incêndio que vai ser apagado com gasolina.
Depois de afirmar que a Otan precisa arrumar meios de evitar que a guerra se espalhe para além das fronteiras ucranianas, Stoltenberg declarou que a Finlândia será “recebida calorosamente” caso decida aderir à aliança militar.
Stoltenberg disse que a Suécia e a Finlândia “podem facilmente aderir a esta aliança se decidirem se candidatar”, observando que “trabalham juntos há muitos anos, sabemos que atendem aos padrões da Otan quando se trata de interoperabilidade, controle democrático sobre as forças armadas.”
Neutralidade histórica da Finlândia em relação à Otan está em jogo
Finlândia e Rússia compartilham cerca de 1.300 quilômetros de fronteira. Atualmente, somente Ucrânia, Finlândia e Bielorrússia separam fisicamente a Rússia da Otan.
Suécia podem se juntar à Otan em breve
A primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, não descartou a possibilidade de adesão em entrevista à SVT no final de março.
A Suécia está realizando uma análise da política de segurança que deve ser concluída até o final de maio, e o governo deve anunciar sua posição após esse relatório, disse um funcionário sueco. Eles disseram que seu país poderia tornar sua posição pública mais cedo, dependendo de quando a vizinha Finlândia o fizer.
Rússia faz ameaças caso Suécia e Finlândia decidam entrar na Otan
A Rússia ameaçou, o que chamou de tentativas do Ocidente de incluir na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a Finlândia e a Suécia, países conhecidos pela neutralidade, e alertou para as “sérias consequências” de uma adesão desses países ao grupo.
“É evidente que a entrada de Finlândia e Suécia na Otan, que é um bloco militar, teria sérias consequências político-militares, que necessitariam de uma resposta do nosso país”, afirmou em entrevista coletiva a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova.
A representante da diplomacia disse que Moscou está ciente dos “esforços direcionados da Otan e de alguns países membros do bloco, em primeiro lugar os Estados Unidos, para incluir a Finlândia e também a Suécia na aliança”.
Ela declarou ainda que Finlândia e Suécia confirmaram o princípio da indivisibilidade da segurança como membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). “A escolha das formas de assegurar a defesa e segurança nacional é um assunto interno e soberano de cada Estado”, disse ela.
Possibilidade de resposta do Kremlin
Após as novas falas da OTAN sobre o tema, o Kremlin disse nesta quinta (7) que teria que “reequilibrar a situação” se a Suécia e a Finlândia se juntarem à Otan.
“Teremos que tornar nosso flanco ocidental mais sofisticado em termos de garantir nossa segurança”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à Sky News.
Alguns países da Otan estão analisando a possibilidade de a Rússia realizar um ataque antes que a Finlândia caia sob as proteções da aliança, de acordo com uma autoridade europeia.
“Estaremos muito atentos à possibilidade de que a Rússia tente fazer algo antes de [a Finlândia] ingressar na aliança”, disse o funcionário.
E o responsável finlandês reconheceu que “é preciso estar preparado, se o nosso país decidir candidatar-se ou mesmo se não o fizer, a situação não é segura, estável. Temos uma guerra, temos todo o tipo de possibilidades.”
Você precisa fazer login para comentar.