Os líderes dos países-membros e observadores do Brics se reuniram para a tradicional foto no último dia da cúpula do bloco, que ocorreu nesta quinta-feira (24). Este ano, o evento foi sediado em Kazan, na Rússia, com destaque para o presidente russo Vladimir Putin, a exclusão do presidente venezuelano Nicolás Maduro por parte do Brasil, a ausência de Lula e debates sobre a expansão do grupo econômico.
A Venezuela, que busca integrar o Brics, não conseguiu entrar na lista de novos parceiros do bloco, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como membros principais. A decisão refletiu o interesse do Brasil, já que a relação entre Maduro e Lula está tensa desde a reeleição presidencial na Venezuela, marcada por falta de transparência, algo que não se pode comentar no Brasil.
Mesmo impedido, Maduro esteve presente na foto oficial. Ele chegou a Kazan na terça-feira (22), no segundo dia do evento. O presidente venezuelano defende a entrada de seu país no bloco, mas nem mesmo Putin apoiou a inclusão da Venezuela entre os novos parceiros do Brics.
Durante a cúpula, discutiu-se a possibilidade de ampliar o bloco com a criação de uma categoria de “países parceiros”, mantendo um núcleo principal. Especialistas afirmam que essas discussões aumentaram a influência geopolítica da Rússia e da China.
Putin em Destaque
Vladimir Putin ganhou destaque na cúpula do Brics em 2024. O presidente russo enfatizou a necessidade de uma “nova ordem mundial multipolar”. Para a Rússia, o bloco de países emergentes representa uma alternativa às instituições lideradas pelas potências ocidentais, como o G7, visão que conta com o apoio do presidente chinês Xi Jinping, um aliado estratégico de Moscou.
A escolha da Rússia como sede da cúpula também contribuiu para a visibilidade de Putin. O país está em conflito com a Ucrânia desde fevereiro de 2022, quando tropas russas invadiram o território ucraniano.
Enquanto discursava sobre a importância de reduzir as tensões no Oriente Médio, Putin classificou como “ilusória” a ideia de que a Rússia possa ser derrotada na guerra.
Recentemente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresentou ao parlamento ucraniano seu “plano de vitória” sobre a Rússia, um projeto que ele já havia compartilhado com os Estados Unidos.
Durante o encontro do Brics, a Rússia também manifestou apoio à recondução de Dilma Rousseff para um novo mandato à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como “banco do Brics”.
Putin diz que a Venezuela é um ‘parceiro confiável’ da Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira 23 que a Venezuela é um parceiro confiável durante uma reunião com o presidente Nicolás Maduro, em paralelo à cúpula do BRICS em Kazan, para revisar projetos conjuntos.
Putin também celebrou os resultados obtidos em iniciativas compartilhadas entre Caracas e Moscou: “É algo muito bom”.
“A Venezuela é um antigo e confiável parceiro da Rússia na América Latina e no mundo em geral, e está sendo desenvolvida uma cooperação mutuamente benéfica em todas as áreas”, disse o chefe do Kremlin no encontro.
Maduro, que não visitava a Rússia desde setembro de 2019, chegou na terça-feira a Kazan para participar da cúpula do grupo de países emergentes BRICS e buscar novos investimentos.
É sua primeira viagem oficial ao exterior desde as eleições de 28 de julho, nas quais foi declarado vencedor e a oposição denunciou fraude.
“Estamos avançando em muitos temas. A Venezuela conseguiu recuperar sua economia com esforço próprio. Toda a nossa delegação está preparada para avançarmos nos temas de cooperação bilateral”, afirmou Maduro, sem entrar em detalhes.
O presidente venezuelano também insistiu que seu país está pronto para ser membro ativo do BRICS.
Caracas se prepara para realizar em 7 de novembro uma reunião da comissão mista Rússia-Venezuela, a fim de revisar os projetos conjuntos dos dois governos nas áreas financeira, turística, científica e cultural.
Ausência e Discurso de Lula
Lula caiu no banheiro e acabou participando da reunião presidencial da cúpula do Brics por videoconferência na quarta (23).
No discurso, Lula recorreu a temas frequentes nas suas últimas participações em fóruns internacionais, incluindo apelos contra mudança climática, crítica às guerras e defesa da taxação dos “super-ricos”
Lula pediu paz para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia
No discurso, Lula também falou sobre a guerra do Oriente Médio. O presidente afirmou que tanto o conflito em Israel, quanto o existente entre Rússia e Ucrânia, tem capacidade de se tornarem guerras globais.
“Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, disse.
De acordo com o presidente, o Brasil irá reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países quando assumir a presidência dos Brics, a partir de 1º de janeiro de 2025.
“Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. […] Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica”, afirmou.
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