Cumprir missão não é ataque

O General Heber Portela que comanda o setor de Defesa Cibernética e integrar a Comissão de Transparência do TSE, por indicação do então ministro da Defesa, General Braga Netto, intensifica pressão sobre a comissão, é o que mostram as atas das reuniões.

Os documentos revelam que Portella, que costumava não se manifestar durante as reuniões, endureceu o jogo no último encontro da comissão.

Na reunião do mês passado, na ata desse encontro, mostra que Portella chegou de forma objetivo, após as reuniões anteriores provavelmente estar coletando informações e dados. 

O general fez questão de falar depois da exposição do secretário de Tecnologia da Informação, Julio Valente. 

O técnico disse que o processamento dos dados das urnas é feito por por um sistema único em todo o país, que as possibilidades de auditoria são “muitas e complementares” e que a totalização dos votos pode ser repetida “por qualquer entidade que assim o deseje”.

Mas Portella não se conformou e solicitou que “fosse apresentado o cálculo feito para o índice de confiabilidade no aumento de urnas auditadas nos testes de integridade” e ainda consultou “sobre a possibilidade de que seja feita uma auditoria específica, caso haja um resultado diferente nos testes de integridade”. 

Também solicitou ao TSE que informasse “qual seria a melhor forma de realizar as auditorias existentes, considerando o processo como um todo”. 

Em resposta, Fachin disse que o trabalho de auditoria global da eleição está sendo realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). 

O general ainda perguntou se, mesmo os trabalhos do grupo sendo sigilosos, ele poderia conversar com as Forças Armadas sobre seu conteúdo. Fachin respondeu que sim. 

A comissão fez outras reuniões no ano passado, em 4 de outubro e 22 de novembro, mas não há atas desses encontros. Em dezembro, Portella encaminhou ao tribunal um ofício em que solicitava acesso a um total de 27 documentos, entre eles relatórios de riscos e políticas de auditoria, segurança da informação e gestão de vulnerabilidades. 

Também deu início a uma série de perguntas sobre a preparação das eleições, a fiscalização das urnas e os mecanismos de segurança para detectar eventual “intrusão” aos sistemas.

Os ofícios de Portella municiaram o presidente da República, que passou a usar as questões para reforçar seu posicionamento sobre o tema. 

Em fevereiro, dois dias antes de uma reunião da comissão em que o general não se manifestou, Bolsonaro declarou em um programa de rádio que “as Forças Armadas identificaram algumas dezenas de dúvidas, sobre o sistema.” 

O presidente ainda concluiu: “Oficiaram o TSE, o prazo era 30 dias, o TSE nada respondeu e foi reiterado. Anteontem expirou o prazo, nada responderam também”.

Em abril, dois dias depois da reunião em que o general questionou os testes e as possibilidades de auditoria nas urnas, Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto um grupo de parlamentares e disse que o resultado das eleições era apurado em uma “sala secreta”.

“Uma das sugestões é que, esse mesmo duto que alimenta na sala secreta os computadores, seja feita uma ramificação um pouquinho à direita para que tenhamos do lado um computador também das Forças Armadas para contar os votos no Brasil”, afirmou Bolsonaro na época

Logo após diversos questionamentos e momentos de tensão, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira Oliveira, tomou para si a interlocução com a comissão.

Após tanta pressão, Fachin decidiu manter os trabalhos do grupo até o fim de sua gestão, em meados de agosto, para não colocar mais lenha na fogueira.

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/malu-gaspar/post/general-endureceu-jogo-com-tse-apos-indulto-de-bolsonaro-daniel-silveira.html?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo

 

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