“Novo Cangaço” aterrorizam em Guarapuava

A expressão “novo cangaço” foi adotada para descrever grandes grupos de criminosos que agem em regiões longe de capitais, em cidades de médio porte localizadas no interior. Os criminosos agem com rapidez, usam de muita violência e fazem valer o forte armamento que ostentam.

A expressão ‘novo cangaço’ surgiu no Nordeste brasileiro em 1990 por meio da mídia  e foi criada para designar as quadrilhas com ações agressivas que cercavam pequenas cidades do sertão nordestino para praticar crimes ‘cinematográficos’.

Ataques como esse se tornaram mais frequentes nos últimos anos, principalmente em cidades pequenas e médias do Sudeste. Investigações indicam que as ações são planejadas e também executadas por membros de facções criminosas, principalmente do Primeiro Comando da Capital (PCC) .

Lampião

Esse tipo de assalto – quando um grupo criminoso toma o controle de uma pequena cidade para roubar – não é novo no Brasil. No início do século passado,  Lampião  e seu bando de cangaceiros ganhavam a vida praticando saques semelhantes.

No final dos anos 1990, surgiu o chamado “novo cangaço”, quando grupos de criminosos passaram a invadir cidades do sertão nordestino (municípios carentes de efetivo policial) para saquear bancos e carros-fortes. As ações, bastante violentas, terminavam em tiroteios e mortes de policiais e civis inocentes.

Estradas foram incendiadas durante ataque em Guarapuava (PR) — Foto: Reprodução

Como foi o ataque?

Mais de 30 criminosos fortemente armados tentaram assaltar uma empresa de transporte de valores em Guarapuava, na região central do Paraná, entre a noite deste domingo (17) e a madrugada desta segunda-feira (18), segundo a Polícia Militar (PM).

Testemunhas disseram ainda que os criminosos colocaram fogo em dois veículos em frente ao batalhão da Polícia Militar para dificultar a ação dos agentes de segurança.

Os assaltantes fizeram moradores reféns e fecharam os acessos da cidade. Além disso, cinco veículos blindados foram usados na ação, segundo a polícia. Muitos disparos foram ouvidos durante a madrugada, segundo moradores da cidade.

Houve confronto, que terminou com três policiais baleados, sendo que dois foram encaminhados para o hospital. O terceiro policial não ficou ferido porque a bala parou no celular do agente.

O Exército mobilizou um veículo blindado para reforçar a segurança das instalações militares da cidade, que abriga o 26º Grupo de Artilharia de Campanha.

A corporação informou que não houve nenhum tipo de ação contra a unidade militar e que as medidas adotadas fazem parte do protocolo de segurança da Organização Militar.

Guarapuava fica a 256 quilômetros de Curitiba. A cidade tem aproximadamente 183 mil habitantes, de acordo com estimativa do IBGE

Qual o armamento usado pelos criminosos?

Em coletiva na manhã desta segunda, a Polícia Militar informou que os criminosos estavam com oito veículos, cinco dos quais eram blindados. Eles também levavam sete fuzis e duas armas .50, que foram apreendidos.

Uma das armas foi abandonada em cima de árvore e encontrada na manhã desta segunda.

Arma foi abandonada em uma árvore, na região da empresa — Foto: Eduardo Andrade/RPC

Ainda de acordo com Polícia Militar, os criminosos estavam equipados com mochilas de mantimentos, com kits de primeiros socorros e quatro capacetes balísticos. Também havia carros escondidos para a fuga do grupo na zona rural de Guarapuava.

Assaltantes de Guarapuava deixaram armas para trás durante fuga — Foto: Divulgação/Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná

O que foi levado pelos criminosos?

O comandante-geral da Polícia Militar no Paraná (PM-PR), coronel Hudson Leôncio Teixeira e o secretário de Segurança Pública do estado, coronel Rômulo Marinho Soares, afirmaram que os criminosos não conseguiram acessar os cofres da empresa e fugiram sem levar nada.

A Protege, proprietária da empresa de valores que foi alvo do ataque, também informou em nota que nada foi levado.

Como foi a fuga?

Na fuga, os criminosos fecharam os acessos da cidade. Após a ação, durante a madrugada, os moradores de Guarapuava foram orientados a não deixarem as casas, devido ao risco à segurança.

Por volta das 5h45, a Polícia Militar informou que os criminosos conseguiram fugir rumo ao interior do estado e, momentos depois, afirmou que os moradores poderiam sair de casa.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou que os acessos via BR-277 também foram liberados. Não houve suspensão de aulas ou cancelamento de outros serviços no município.

Veículo incendiado em frente a batalhão da PM em Guarapuava (Foto: Reprodução, Twitter)

Veículo foi incendiado em frente à unidade da PM, em Guarapuava — Foto: Eduardo Andrade/RPC

Alguém foi preso?

Até a última atualização desta reportagem, um dos suspeitos foi preso, de acordo com a PM. A corporação informou que cerca de 200 policiais trabalham na busca aos assaltantes.

Conforme a polícia, o suspeito detido não participou da ação, mas ajudou a quadrilha com a parte logística de fornecimento de armas.

O suspeito é do próprio município e foi encaminhado à Delegacia de Guarapuava.

O que já foi apreendido?

Até as 16h desta segunda, de acordo com a polícia, foram apreendidos:

  • 8 veículos localizados;
  • 3 armas .50;
  • 1 arma 7,62;
  • 4 armas 5,56;
  • 1 arma calibre 12 Combat;
  • 1 pistola Glock 9mm com seletor de rajada;
  • 1 carregador de AK 47;
  • 1 bolsa cheia de “miguelito” (espécie de arma feita com pregos)
  • 104 munições cal. 762;
  • 59 munições cal. 556;
  • R$ 1,4 mil em espécie;
  • 4 capacetes balísticos;
  • 2 coletes balísticos;
  • 5 balaclavas;
  • kits de primeiros socorros;
  • mochilas com roupas, barras de cereal, remédios e itens de higiene;
  • facas;
  • celulares;
  • lanternas;
  • e um par de placas de veículo sobressalente.

O que diz a empresa alvo do ataque?

Em nota, a Protege, dona da empresa de valores que foi alvo dos assaltantes, informou que os criminosos não conseguiram acessar o cofre da empresa.

Também informou que vai colaborar com as autoridades responsáveis pela investigação do caso.

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