Ataque contra Cristina Kirchner: o que se sabe e o que falta esclarecer

Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina, foi vítima de um ataque a tiro na noite desta quinta-feira (1º), em Buenos Aires. O atirador, de 35 anos, apontou uma pistola para o rosto de Kirchner, mas a arma não disparou.

Alberto Fernández, presidente do país, classificou o ataque como “o mais grave desde 1983, quando o país voltou a ser uma democracia”. Ele também declarou feriado nacional nesta sexta-feira (2).

1. Quem é Cristina Kirchner?

Atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner tem 69 anos e já governou o país por dois mandatos — em 2007, quando sucedeu seu falecido marido, Néstor Kirchner (morto em 2010), e em 2013, quando foi reeleita. A administração dos Kirchner, a chamada “era K”, começou em 2003, no desfecho de uma severa crise econômica, e durou 12 anos.

Kirchner está sendo julgada por corrupção ligada a contratos públicos concedidos no início dos anos 2000. Os promotores acusam a vice-presidente de participar de um esquema para desviar dinheiro público quando ocupava a presidência do país.

Segundo a promotoria, empresários que participavam do esquema faziam contratos com o Estado e repassava uma parte das verbas a então presidente. Ela, que nega as acusações, pode enfrentar uma sentença de 12 anos de prisão e possível desqualificação para cargos públicos, se for condenada.

Fernando André Sabag Montiel Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

2. Quem é o atirador?

Fernando Sabag Montiel, de 35 anos, nasceu em 13 de janeiro de 1987, reside no bairro de La Paternal, em Buenos Aires, e tem permissão para trabalhar como motorista de aplicativo na Argentina. O documento do brasileiro obtido pela Polícia Federal mostra que ele nasceu em São Paulo, mas que não é filho de brasileiros e que vive desde o começo da década de 1990 no país vizinho.

As primeiras informações do Itamaraty são de que o atirador seria de São Paulo, filho de mãe argentina e pai chileno, que teria sido expulso do Brasil em 2021.

Montiel tem antecedentes por porte de arma ilegal não-convencional. Em 17 de março de 2021, ele alegou “segurança pessoal” ao ser flagrado com um facão de 35 centímetros.

De acordo com o site “Infobae”, vizinhos definiram Montiel como “inconstante”, “propenso a dizer tolices” e que tem o hábito de esperar músicos famosos em hotéis.

3. Onde aconteceu o ataque?

O atentado aconteceu quando Kirchner acenava para apoiadores na frente de sua casa, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. A vice-presidente conta com uma equipe de segurança de 100 policiais federais.

4. Como aconteceu o ataque?

As imagens mostram que Montiel aparece de gorro preto entre as pessoas que aguardavam a chegada de Kirchner em frente à sua casa. O brasileiro estica o braço esquerdo e aponta a pistola na altura da cabeça da vice-presidente. Também é possível ouvir o gatilho antes do disparo.

Kirchner, ao ver a arma, chega a se abaixar. Ela continuou a assinar livros, a tirar fotos e a cumprimentar as pessoas após o ataque, como se nada tivesse acontecido.

5. Qual foi a motivação do ataque?

Ainda não se sabe qual foi a motivação. Também não há informações sobre um possível depoimento ou declarações do brasileiro à polícia argentina.

6. O que aconteceu com o atirador?

Os seguranças de Kirchner conseguiram deter Montiel com a ajuda dos militantes que estavam em volta da vice-presidente. Em seguida, o brasileiro, que tem antecedentes policiais, foi preso.

Segundo o ministro da Segurança da Argentina, Aníbal Fernández, a situação ainda vai ser analisada. “Agora a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da [polícia] Científica para avaliar os rastros e a capacidade e disposição que essa pessoa tinha.”

7. Qual foi a arma usada?

A arma utilizada por Montiel foi uma Bersa .32 (7,65 mm), informou o jornal argentino “Clarín” após falar com fontes internas não citadas. Ela estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo.

O Ministério da Segurança da Argentina informou que a arma estava com cinco munições no carregador e nenhuma presa à câmara. Segundo investigações preliminares, a falha no disparo pode ter ocorrido em decorrência do fato de não haver munição na câmara, mas apenas no carregador.

Bersa .32 (7

8. O que aconteceu após o ataque?

Fernández, o presidente da Argentina, declarou feriado nacional nesta sexta-feira (2).

“Decidi declarar feriado nacional para que, em paz e harmonia, o povo argentino possa expressar-se em defesa da vida, da democracia e solidarizar-se com nossa vice-presidente”, anunciou durante pronunciamento em rede nacional.

“Estamos diante de um fato com uma gravidade institucional e humana extrema. Atentaram contra a nossa vice-presidente e a paz social foi alterada”, afirmou o presidente, acrescentando que “este atentado merece o mais enérgico repúdio de toda a sociedade argentina e de todos os setores políticos”.

Falhas na segurança de Cristina Kirchner facilitaram ataque na Argentina

A tentativa de assassinato sofrida pela ex-presidente e atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, expôs falhas na segurança de autoridades no país.

Imagens mostram Cristina caminhando próxima ao público que a aguardava em frente à sua casa. No local, não havia barreira física de proteção para separar as pessoas da vice-presidente, conforme recomendado nos trabalhos de proteção a autoridades. O perímetro de segurança tampouco foi feito por meio de um “cordão” de agentes próximos uns dos outros para evitar a aproximação de agressores.

O agressor consegue chegar perto de Cristina. Ele aponta a pistola Bersa, para a vice-presidente argentina. A arma fica a apenas 20 cm da cabeça da vítima e o agressor puxa o gatilho pela primeira vez. Mesmo assim, os policiais federais, à paisana, permanecem em atitude passiva, apenas para conter os manifestantes.

Após tentar atirar uma vez, o agressor, em fração de segundos, faz nova tentativa de balear Cristina Kirchner. Enquanto a vítima se abaixa, nenhum dos seguranças entra na linha de tiro para protegê-la.

No momento em que Cristina Kirchner se abaixa, os seguranças vão em direção ao agressor. Nenhum deles se dirige à vítima e a retira do local da agressão.

Ministério Público da Argentina pede 12 anos de prisão para Cristina Kirchner

Em agosto, o Ministério Público da Argentina pediu uma pena de 12 anos para Cristina Kirchner, ex-presidente e atual vice-presidente do país, por corrupção ligada à contratação de obras públicas.

O promotor Diego Luciani acusou a vice-presidente de fraudar o Estado em um esquema para desviar dinheiro público quando era presidente, entre 2007 e 2015.

Se a Justiça confirmar a punição, também pode retirar os direitos políticos de Cristina, que também é um dos pedidos do Ministério Público.

A sentença será conhecida em meses, segundo a mídia local, embora Cristina possa recorrer a tribunais superiores, o que levaria anos para chegar a uma decisão final.

Qual é a acusação?

Para os promotores, ela e outros funcionários de seu governo favoreceram empresas de um homem chamado Lazaro Baez nas licitações de dezenas de obras públicas na região sul do país —muitas das obras em questão foram superfaturadas ou nem mesmo foram concluídas.

Especialistas suspeitam que uma parte do dinheiro supostamente desviado teria retornado às mãos da família Kirchner (essa espécie de “pagamento” aos Kirchner teria sido paga às empresas da família).

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/09/02/ataque-contra-cristina-kirchner-o-que-se-sabe-e-o-que-falta-esclarecer.ghtml

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/08/22/ministerio-publico-da-argentina-pede-12-anos-de-prisao-para-cristina-kirchner.ghtml

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