Alexei Navalny, opositore de Putin, morre aos 47 anos na prisão

O opositor russo Alexei Navalny morreu nesta sexta-feira (16), informou o serviço penitenciário de Yamalo-Nenets, na região ártica da Rússia, onde ele cumpria pena.

O Serviço Penitenciário Federal disse em comunicado que Navalny perdeu a consciência durante uma caminhada e passou mal. Segundo a agência russa Tass, o hospital que o atendeu tentou reanimá-lo por 30 minutos, sem sucesso.

A mulher de Navalny, Yulia Navalnaya, disse não acreditar totalmente na morte do marido.

“Não podemos confiar em Putin e no seu governo. Eles sempre mentem. Mas se isso for verdade, quero que Putin, toda a sua comitiva, os amigos de Putin, seu governo saibam que eles serão responsabilizados pelo que fizeram ao nosso país, à minha família, ao meu marido. E esse dia chegará muito em breve”, afirmou.

Os Estados Unidos e a União Europeia culparam o governo Putin pela morte. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou estar “profundamente entristecido e perturbado” pela morte e exigiu que a Rússia esclareça as circunstâncias do ocorrido.
O Ministério das Relações Exteriores russo disse que, “em vez de acusar indiscriminadamente, os Estados Unidos deveriam se limitar a esperar resultados oficiais da investigação médica”.

Navalny, de 47 anos, era um ex-advogado que ficou conhecido ao fazer acusações de corrupção ao governo do presidente Vladimir Putin . Ele se apresentava como um político liberal e principal adversário do atual presidente.

Em 2010, liderou um movimento contra Putin que levou milhares de pessoas às ruas do país. Navalny ficou conhecido nas redes sociais ao falar de Putin com deboche e ironia.
Seis anos depois, chegou a anunciar sua candidatura presidencial. Porém, a Comissão Eleitoral Central da Rússia informou que ele não poderia concorrer devido a uma condenação na Justiça. À época, Navalny era alvo de vários inquéritos.

Ele foi condenado na Rússia por dois crimes. No primeiro, por peculato em uma madeireira estatal —o o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou, em 2016, que o processo foi conduzido de forma arbitrária.
No segundo caso, ele e seu irmão Oleg foram acusados de fraudar a subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Roche em 26 milhões de rublos (cerca de RS$ 1,46 milhão).

Em 2018, após a proibição da candidatura de Navalny, milhares de pessoas protestaram em toda a Rússia contra a eleição na qual o atual presidente, Vladimir Putin, foi eleito pela quarta vez. A manifestação, chamada de “greve de eleitores”, foi convocada por Navalny.

Tentativa de envenenamento

Enquanto cumpria pena de prisão em 2019 por envolvimento num protesto eleitoral, Navalny foi levado ao hospital com uma doença que as autoridades disseram ser uma reação alérgica, mas alguns médicos afirmaram que parecia ser um envenenamento.

Um ano depois, em 20 de agosto de 2020, ele ficou gravemente doente durante um voo da Sibéria para Moscou, onde participaria de um evento ao lado de opositores de Putin. Ele desmaiou no corredor ao voltar do banheiro, e o avião fez um pouso de emergência na cidade de Omsk, onde passou dois dias em um hospital enquanto apoiadores imploravam aos médicos que permitissem que ele fosse levado à Alemanha para tratamento.

Uma vez na Alemanha, os médicos constataram que ele tinha sido envenenado –com um material semelhante ao que quase matou o ex-espião russo Sergei Skripal.

Navalny ficou em coma induzido por cerca de duas semanas, depois trabalhou para recuperar a fala e os movimentos por mais algumas semanas. A Rússia negou qualquer envolvimento no envenenamento.

Greve de fome

Após se recuperar do envenenamento, Navalny foi preso, em 2021. E enquanto estava cumprindo a sentença, sua advogada, Olga Mikhailova, informou que estava preocupada com a saúde de Navalny. Segundo a defensora na época, ele se queixou de dores nas costas e pernas durante uma visita.

Na ocasião, ela já dizia temer pela “vida” e “saúde” de Navalny.

Além disso, a defesa de Navalny denunciou que seu cliente estava sofrendo privação do sono pelos guardas da instituição, o que eles classificaram como uma tortura.
Pessoas próximas ao opositor russo também se mostraram preocupadas na época com seu estado de saúde.

Uma semana depois dos familiares de mostrarem preocupados, Navalny disse que iria encerrar a greve de fome.

Desaparecimento

O opositor russo foi dado como desaparecido em 6 de dezembro, quando seus aliados afirmaram que os advogados de Navalny foram proibidos de entrar na prisão onde ele estava.

Seus representantes afirmaram que ele não estava recebendo as cartas que lhe eram endereçadas e que não comparecia às audiências judiciais por videoconferência, como de costume.

Em seguida, descobriram que ele havia sido transferido de presídio, para o Lobo Polar (conheça mais abaixo sobre a prisão), mas que não tiveram mais notícia do paradeiro dele.

À época, o governo dos Estados Unidos manifestou profunda preocupação com o bem-estar de Navalny e afirmou que as autoridades russas são responsáveis por ele.

Em resposta, o Kremlin declarou que os comentários americanos são uma intromissão inaceitável nos assuntos internos da Rússia.

Navalny então reapareceu em 25 de dezembro, após falar com o seu advogado de dentro da prisão, em Yamal-Nenets.

Prisão Lobo Polar

A prisão, chamada de Lobo Polar, onde Navalny estava preso, é considerada uma das prisões mais difíceis da Rússia. A maioria dos prisioneiros que continuam nela foram condenados por crimes graves.

Durante o inverno, as temperaturas no local podem chegar a até -28°C.

A cerca de 60 km ao norte do Círculo Polar Ártico, a prisão foi fundada na década de 1960 como parte do que já foi o sistema Gulag de campos de trabalhos forçados soviéticos, segundo o jornal Moskovsky Komsomolets.

Kira Yarmysh, porta-voz do político russo, disse acreditar que a decisão de transferi-lo para um local tão remoto e inóspito foi projetada para isolá-lo, tornar sua vida mais difícil e complicar o acesso de seus advogados e aliados.

“Eu sou o seu novo Papai Noel”, escreveu Navalny, à época, brincando em sua primeira postagem de sua nova prisão, uma referência às duras condições climáticas de lá.

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